Te convido.
Pode escolher: túnel do tempo ou o
Delorean.
Vamos dar uma passeada pelo passado,
mais precisamente no dia 2 de outubro de 2009, na pacata Copenhague,
capital da Dinamarca.
A TV está ligada e há uma expectativa
em torno do anúncio da cidade que sediará os Jogos Olímpicos de
2016.
O belga Jacques Rogge abre o envelope
e...
Bem, você já sabe.
O anúncio do Rio de Janeiro faz
atletas, dirigentes e políticos pularem que nem crianças, rirem,
chorarem, se abraçarem...
A emoção da conquista também se
espalha pela cidade. Depois de três tentativas frustradas saíamos
vitoriosos.
Uma cidade destinada a grandes eventos:
festivais de rock, JMJ, Jogos Mundiais Militares, Copa do Mundo e
agora os Jogos Olímpicos.
Um futuro de sonho, principalmente se
levássemos em conta a situação estável que vivia o país. A
inflação de outubro de 2009 seria de 0,24%, o dólar estava cotado
a R$ 1,75 e o Governo Federal tinha uma aprovação acima de 70%.
O estado do Rio vivia dos royalties do
petróleo e ainda havia a promessa do pré-sal. O que poderia ser
melhor?
Um grande futuro bem próximo nos
aguardava....
Fim do passeio.
Embarquemos de volta para 2016.
Apenas sete anos e um
7x1 depois e quanta coisa mudou...
A tocha olímpica bate à nossa porta e
a vontade que dá é de dizer que não há ninguém em casa; que ela
volte depois.
Pra onde a vista alcança vemos uma
cidade em obras. E agosto é logo ali...
O Comitê Olímpico garante. Tudo
ficará pronto a tempo e eu me pergunto qual é a marca do
tranquilizante que eles estão tomando.
As arenas, as instalações esportivas
estão, mesmo, nos últimos retoques (pelo menos é o que se
divulga), mas e o resto?
Teremos grandes atletas, árduas
disputas, buscas por recorde, mas como é que o torcedor vai fazer
pra chegar até os locais de competição?
O Metrô tenta um sprint de Usain Bolt
para chegar ao Jardim Oceânico, na Barra.
E vamos dizer que chegue. Mas e a
ligação com o BRT. Quem passa pelo começo da Barra da Tijuca vê o
quanto ainda falta para que haja a integração entre os dois
transportes.
Outro BRT, o da Transolímpica, que vai
ligar os polos de competição de Deodoro e da Barra também parece
longe de ser concluído, embora o portal da Cidade Olímpica garanta
que, hoje (26/4/16) 80% das obras estejam concluídas.
Em sua coluna no jornal O Globo, o
jornalista Marcelo Barreto, que acompanhou de perto todos os
preparativos para os Jogos de Londres, em 2012, fala do principal
diferencial entre o que se fez por lá e o que se faz por aqui:
“Os organizadores dos Jogos Olímpicos
Londres-2012 gostavam de repetir que passaram quatro anos planejando
e três construindo. Foi assim que entregaram todas as obras no prazo
e dentro do orçamento. Nem tudo funcionou como prometido — ainda
há instalações que não cumpriram sua função de legado, como a
arena desmontável do basquete e o centro de imprensa transformado em
polo de negócios. Apesar da ressalva, não houve qualquer registro
de acidentes graves, falhas estruturais ou descumprimento às
rigorosas regras de fiscalização das autoridades britânicas.
O Rio de Janeiro também vai entregar
as instalações olímpicas dos Jogos de 2016 dentro do prazo e do
orçamento — ou bem perto disso. Mas quase todas com um elemento
que não se viu em Londres: a pressa.”
A pressa, já diziam os antigos, é
inimiga da perfeição e, diria eu, é filha da falta de
planejamento.
Exemplo maior não há do que a, pelo
visto, natimorta ciclovia Tim Maia (maldade usar o nome do Síndico).
Não bastasse o desabamento de um trecho, que provocou a morte de
duas pessoas que plenas de boa fé se exercitavam no local, o que
pudemos ver nos dias seguintes foi um show de imperícia e/ou
desleixo com uma obra que fazia parte do “legado olímpico”.
Construída na pressa para se tornar um
cartão postal da cidade ou, como diria o prefeito quando a percorreu
poucos meses atrás, em sua inauguração, “a ciclovia mais bela do
mundo”, tornou-se um mico preto nas mãos do alcaide.
Mais bela ela até pode ser, porém
segura, viu-se que não.
Quem, nos próximos anos, passará pelo
local e não se lembrará da tragédia? Até hoje quando passo pelo
elevado Paulo de Frontin, lembro do desabamento. Se sigo em direção
ao Centro pelo Aterro, me recordo da irresponsabilidade dos donos do
Bateau Mouche.
Irrresponsabilidade, incompetência e
ganância. Três fatores de risco que, se unidos em qualquer
combinação possível, podem se tornar fatais.
Com a queda da ciclovia, o sinal de
alerta acendeu nos meios de comunicação lá de fora. A ameaça da
Dengue, da Zika e da Chikungunya ganharam a companhia do temor pelas
condições de segurança das obras olímpicas.
Futurismo midiático?
Sensacionalismo?Ou um considerável realismo?
As autoridades olímpicas se mostram
confiantes. Garantem que tudo correrá bem.
Talvez para quem for assistir aos Jogos
de longe tudo pareça perfeito. E espero que seja assim, para que a
imagem da cidade seja, ao menos, preservada.
Mas para nós, vizinhos olímpicos,
temo que a sensação não será a mesma.
Ao terminar este texto me vem à cabeça
uma frase clássica carioca que diz: “Em foto, até o Canal do
Mangue é bonito”.
O futuro é hoje... E que futuro...
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