Quando a gente acha que já viu tudo,
sempre aparece alguém para nos lembrar de que isso nunca é verdade.
Hoje, lendo O ESTADO DE S.PAULO em
busca de mais informações sobre uma nova vítima fatal em virtude
de brigas entre torcidas, dei de cara com a seguinte frase de um
tenente-coronel da PM paulista: “Estamos percebendo que realmente
existe alguma coisa no ar”.
Tal raciocínio não tem nada a ver com
a famosa frase de William Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu
e a Terra do que supõe vossa vã filosofia”. O militar estava se
referindo a um suposto clima de guerra entre torcidas organizadas do
estado.
O problema é que tal ingenuidade não
vem de um PM qualquer e sim do responsável pelo policiamento nos
clássicos do campeonato paulista.
O histórico de confrontos dos últimos
anos parece não ter sido suficiente para que o militar dirimisse
suas dúvidas sobre o clima de guerra entre torcedores rivais. E,
lamentavelmente, não faltam casos.
Numa rápida busca no Google, encontrei
várias manchetes de mortes em confrontos de torcedores.
De acordo
com o professor Maurício Murad, estudioso da violência que envolve
torcidas organizadas, foram 113 mortes desde 2010, quatro só este
ano.
Reflitam sobre este número: 113.
E o comandante do policiamento em
clássicos dá uma declaração de que há algo de estranho no
ar?????
Tudo bem que a Grande São Paulo é uma
área imensa e que torcedores se deslocam de vários pontos em
direção ao estádio. Ontem, por exemplo, os confrontos ocorreram em
quatro pontos diferentes. Em São Miguel Paulista um homem de 60 anos
que apenas passava pelo local morreu com um tiro no peito. Um tiro!
Ou seja, um FDP, saiu de casa armado para ir a um jogo de futebol,
ou, o que é mais provável, apenas para brigar com torcedores
(??????????????) adversários. Duas outras vítimas das confusões
permanecem em estado grave.
Paus, pedras, estoques, barras de ferro
e rojões também passaram a ser armas comuns nesses enfrentamentos.
Na estação Brás, do Metrô, passageiros ficaram em meio ao caos
provocado pelos marginais uniformizados.
Veja dois vídeos:
Mas e o setor de inteligência da PM, o
que faz? Os confrontos são marcados pela Internet. Todo mundo sabe
disso. Pesquisar depois, para buscar culpados não basta. A medida
deveria ser tomada previamente. É tão difícil infiltrar policiais,
vasculhar redes sociais ou se fazer valer de imagens de TV câmeras
de segurança para identificar quem são os mentores desses atos?
A ação, inclusive, deveria ser
conjunta entre autoridades, clubes e as próprias torcidas
interessadas em se livrar desse arruaceiros. A imprensa esportiva
também poderia ajudar bastante se partir para um viés investigativo
dessa pauta, ao invés de apenas noticiar e lamentar fatos como o de
ontem (quando se digna a noticiar – vide capa do Lance de hoje).
Quem fizer fora do penico tem que ser
fichado, impedido de entrar em estádios e, pior, ter que se
apresentar a uma delegacia uma hora antes do jogo e só sair uma hora
depois. Se não aparecer, xilindró... Para aqueles que participarem
de espancamentos ou matarem alguém, aí não tem conversa: código
penal neles.
Enquanto não houver punições
realmente severas para esse tipo de coisa, nada vai mudar. A PM
impede uma torcida de levar faixas, instrumentos e bandeiras como
punição, mas os marginais continuam frequentando os jogos.
Nos estádios, diga-se a verdade, é
muito difícil ver brigas, hoje em dia. A porradaria acontece nos
arredores, em pontos previamente acertados através de redes sociais.
Todo mundo sabe e a PM também, mas se restringe a fazer um cordão
de isolamento para acompanhar a ida das “organizadas” até o
estádio. Quem já viu grupos assim sabe o quanto eles podem ser
assustadores, mesmo com a polícia ao lado. Não são torcidas, são
hordas, espumando, babando, porejando ódio.
Infelizmente não se trata de um
fenômeno paulista, e sim nacional. Há todo momento surge uma nova
notícia, desde o mais “banal” espancamento, até uma morte
causada pelo arremesso de um vaso sanitário do alto do estádio
sobre torcedores rivais, como aconteceu em 2014, em Pernambuco. É
assim em Florianópolis, em Fortaleza, em Belo Horizonte, no Rio...
Depois os times reclamam de que os
estádios estão cada vez mais vazios.
O medo e os espetáculos de baixa
qualidade técnica estão matando o futebol brasileiro.
Ontem, os jogadores dos dois times
formaram juntos, em campo, para manifestar seu repúdio a mais uma
vítima dessa “guerra”. Mas se nada de efetivo for feito, logo
será preciso fazer outro protesto, e outro, e mais outro.
Sou do tempo em que se podia ir à
Geral sem medo. Tempo em que torcidas desciam as rampas do velho
Maraca lado a lado, sacaneando os rivais, sem o temor de levar um
tiro ou uma facada. Hoje, continuo a ir a estádios, mas evito alguns
clássicos, principalmente se estiver com minha filha.
Até quando essa violência vai
continuar?
Lamentavelmente, acho que até
sempre...
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