segunda-feira, 4 de abril de 2016

INSANIDADE ORGANIZADA

Quando a gente acha que já viu tudo, sempre aparece alguém para nos lembrar de que isso nunca é verdade.
Hoje, lendo O ESTADO DE S.PAULO em busca de mais informações sobre uma nova vítima fatal em virtude de brigas entre torcidas, dei de cara com a seguinte frase de um tenente-coronel da PM paulista: “Estamos percebendo que realmente existe alguma coisa no ar”.


Tal raciocínio não tem nada a ver com a famosa frase de William Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a Terra do que supõe vossa vã filosofia”. O militar estava se referindo a um suposto clima de guerra entre torcidas organizadas do estado.
O problema é que tal ingenuidade não vem de um PM qualquer e sim do responsável pelo policiamento nos clássicos do campeonato paulista.
O histórico de confrontos dos últimos anos parece não ter sido suficiente para que o militar dirimisse suas dúvidas sobre o clima de guerra entre torcedores rivais. E, lamentavelmente, não faltam casos.
Numa rápida busca no Google, encontrei várias manchetes de mortes em confrontos de torcedores.


De acordo com o professor Maurício Murad, estudioso da violência que envolve torcidas organizadas, foram 113 mortes desde 2010, quatro só este ano.
Reflitam sobre este número: 113.
E o comandante do policiamento em clássicos dá uma declaração de que há algo de estranho no ar?????

Tudo bem que a Grande São Paulo é uma área imensa e que torcedores se deslocam de vários pontos em direção ao estádio. Ontem, por exemplo, os confrontos ocorreram em quatro pontos diferentes. Em São Miguel Paulista um homem de 60 anos que apenas passava pelo local morreu com um tiro no peito. Um tiro! Ou seja, um FDP, saiu de casa armado para ir a um jogo de futebol, ou, o que é mais provável, apenas para brigar com torcedores (??????????????) adversários. Duas outras vítimas das confusões permanecem em estado grave.


Paus, pedras, estoques, barras de ferro e rojões também passaram a ser armas comuns nesses enfrentamentos. Na estação Brás, do Metrô, passageiros ficaram em meio ao caos provocado pelos marginais uniformizados.

Veja dois vídeos:

Mas e o setor de inteligência da PM, o que faz? Os confrontos são marcados pela Internet. Todo mundo sabe disso. Pesquisar depois, para buscar culpados não basta. A medida deveria ser tomada previamente. É tão difícil infiltrar policiais, vasculhar redes sociais ou se fazer valer de imagens de TV câmeras de segurança para identificar quem são os mentores desses atos?


A ação, inclusive, deveria ser conjunta entre autoridades, clubes e as próprias torcidas interessadas em se livrar desse arruaceiros. A imprensa esportiva também poderia ajudar bastante se partir para um viés investigativo dessa pauta, ao invés de apenas noticiar e lamentar fatos como o de ontem (quando se digna a noticiar – vide capa do Lance de hoje).


Quem fizer fora do penico tem que ser fichado, impedido de entrar em estádios e, pior, ter que se apresentar a uma delegacia uma hora antes do jogo e só sair uma hora depois. Se não aparecer, xilindró... Para aqueles que participarem de espancamentos ou matarem alguém, aí não tem conversa: código penal neles.
Enquanto não houver punições realmente severas para esse tipo de coisa, nada vai mudar. A PM impede uma torcida de levar faixas, instrumentos e bandeiras como punição, mas os marginais continuam frequentando os jogos.
Nos estádios, diga-se a verdade, é muito difícil ver brigas, hoje em dia. A porradaria acontece nos arredores, em pontos previamente acertados através de redes sociais. Todo mundo sabe e a PM também, mas se restringe a fazer um cordão de isolamento para acompanhar a ida das “organizadas” até o estádio. Quem já viu grupos assim sabe o quanto eles podem ser assustadores, mesmo com a polícia ao lado. Não são torcidas, são hordas, espumando, babando, porejando ódio.


Infelizmente não se trata de um fenômeno paulista, e sim nacional. Há todo momento surge uma nova notícia, desde o mais “banal” espancamento, até uma morte causada pelo arremesso de um vaso sanitário do alto do estádio sobre torcedores rivais, como aconteceu em 2014, em Pernambuco. É assim em Florianópolis, em Fortaleza, em Belo Horizonte, no Rio...
Depois os times reclamam de que os estádios estão cada vez mais vazios.
O medo e os espetáculos de baixa qualidade técnica estão matando o futebol brasileiro.
Ontem, os jogadores dos dois times formaram juntos, em campo, para manifestar seu repúdio a mais uma vítima dessa “guerra”. Mas se nada de efetivo for feito, logo será preciso fazer outro protesto, e outro, e mais outro.


Sou do tempo em que se podia ir à Geral sem medo. Tempo em que torcidas desciam as rampas do velho Maraca lado a lado, sacaneando os rivais, sem o temor de levar um tiro ou uma facada. Hoje, continuo a ir a estádios, mas evito alguns clássicos, principalmente se estiver com minha filha.
Até quando essa violência vai continuar?
Lamentavelmente, acho que até sempre...

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