Jair levou uma cusparada de um colega.
Ele poderia ter ficado furioso por
isso, mas no fundo, creiam, achou ótimo.
Sabe que, por conta disso, mais uma vez
estará nos jornais, nas rádios, nas TVs...
Nas mídias sociais simpatizantes e
contrários garantirão sua enorme visibilidade. E Jair adora isso.
Todo país do mundo tem eleitores de
extrema-direita, ou que pelo menos se acham de extrema-direita.
Muitos não sabem ao certo do que se trata, mas acreditam piamente
que o melhor remédio para resolver os problemas é a intimidação
e, se preciso, a porrada.
Todo país do mundo tem representantes
políticos dessa gente. E Jair descobriu que esse poderia ser o seu
nicho.
Ainda na caserna buscou visibilidade
como defensor da classe militar. Reivindicava melhores salários e a
maior valorização da tropa. Foi denunciado ao planejar protestos
explosivos (ao pé da letra) contra o próprio Exército, mas não
chegou a ser condenado.
Com essa pauta e com a da defesa de
pensionistas da Forças Armadas decidiu entrar na política. Nada
mais justo do que a classe ter um representante de seus direitos no
Poder Legislativo.
Mas Jair viu que poderia ir além.
Percebeu que na retomada do processo
democrático do país, a direita estava acanhada, quieta, esperando a
poeira baixar. Optou, então, por ser a voz dissonante; ser o arauto
do conservadorismo; dar a cara a tapa, sem o menor temor de ser
taxado como reacionário.
Na verdade era isso que ele queria.
O discurso em defesa do Golpe Militar
de 1964 dá a falsa impressão de que Jair participou da Ditadura (e
ele acha isso ótimo). Mas na verdade, quando estourou o Golpe, Jair
tinha acabado de completar 9 anos. E só se formou na Academia
Militar quando a abertura política já se desenhava. Seu primeiro
cargo eletivo foi conquistado quando ele tinha pouco mais de dez anos
de farda. Sua breve história nos quartéis lhe garantiu, ao menos,
a patente de capitão, que foi mantida na vida civil. Era ela que
garantiria sua imagem de linha-dura para o público em geral.
Pulando de partido em partido (foram 8
trocas), Jair foi construindo sua imagem.
Misoginia, xenofobia, homofobia,
ofensas, desrespeito à ordem democrática.
Não importava o tema. Jair sempre
buscou o lado polêmico.
Sabia que a cada bravata, a cada frase
polêmica, teria garantido seu espaço na mídia.
Ser do contra passou a ser o seu papel.
Estatuto do desarmamento, contra.
União homoafetiva, contra.
Cotas, contra.
Reforma agrária, contra.
Sociedade laica, contra.
Com a postura Jair passou a
arregimentar cada vez mais simpatizantes e, melhor (para ele),
polarizou as atenções. Se tornou o principal nome da direita no
Brasil.
A bem armada estratégia fez com que
seu sobrenome se tornasse uma “franquia” eleitoral.
Os três filhos e até a ex-mulher se
elegeram. Um clã que bate na mesma tecla do patriarca; extremamente
teatral e muito bem ensaiado.
Portanto, meus caros, quando Jair vai à
frente de um microfone e elogia o chefe da gangue parlamentar ou faz
uma ode a um dos mais cruéis torturadores do Regime Militar, não o
faz como um arroubo impensado, ou como um desabafo de suas crenças.
A pantomima é apenas mais um ato da
construção de sua imagem asquerosa.
Hoje será assunto central.
Hoje se digladiarão defensores e
detratores.
Hoje sua foto estará estampada por
todo lado. Bem como Jair queria.
A fala será guardada e usada mais
tarde, para lembrar a seus eleitores como ele pode representá-los
com firmeza; que é o bastião da resistência contra “forças
subversivas que querem trocar o verde e amarelo de nossa bandeira
pelo vermelho”.
O que fazer com um sujeito assim?
Difícil dizer.
Talvez a melhor maneira de atingi-lo
seja não lhe dar visibilidade desnecessária.
É claro que é duro ficar calado ao
ouvir as coisas absurdas que ele fala. Declarações dignas de
náuseas. Mas Jair continuará a fazê-las, pois foi assim que
conseguiu ser o campeão de votos em seu estado; ser chamado de mito.
Dizem que pretende, inclusive, se
candidatar à presidência. Não porque creia que tenha alguma chance
de vitória (de ingênuo não tem nada), mas porque assim ganhará
ainda mais projeção no pobre cenário político nacional. Ele e seu
clã.
Ou seria melhor dizer matilha?
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