segunda-feira, 18 de abril de 2016

JAIR E O CUSPE

Jair levou uma cusparada de um colega.
Ele poderia ter ficado furioso por isso, mas no fundo, creiam, achou ótimo.
Sabe que, por conta disso, mais uma vez estará nos jornais, nas rádios, nas TVs...
Nas mídias sociais simpatizantes e contrários garantirão sua enorme visibilidade. E Jair adora isso.

Todo país do mundo tem eleitores de extrema-direita, ou que pelo menos se acham de extrema-direita. Muitos não sabem ao certo do que se trata, mas acreditam piamente que o melhor remédio para resolver os problemas é a intimidação e, se preciso, a porrada.
Todo país do mundo tem representantes políticos dessa gente. E Jair descobriu que esse poderia ser o seu nicho.

Ainda na caserna buscou visibilidade como defensor da classe militar. Reivindicava melhores salários e a maior valorização da tropa. Foi denunciado ao planejar protestos explosivos (ao pé da letra) contra o próprio Exército, mas não chegou a ser condenado.
Com essa pauta e com a da defesa de pensionistas da Forças Armadas decidiu entrar na política. Nada mais justo do que a classe ter um representante de seus direitos no Poder Legislativo.
Mas Jair viu que poderia ir além.

Percebeu que na retomada do processo democrático do país, a direita estava acanhada, quieta, esperando a poeira baixar. Optou, então, por ser a voz dissonante; ser o arauto do conservadorismo; dar a cara a tapa, sem o menor temor de ser taxado como reacionário.
Na verdade era isso que ele queria.

O discurso em defesa do Golpe Militar de 1964 dá a falsa impressão de que Jair participou da Ditadura (e ele acha isso ótimo). Mas na verdade, quando estourou o Golpe, Jair tinha acabado de completar 9 anos. E só se formou na Academia Militar quando a abertura política já se desenhava. Seu primeiro cargo eletivo foi conquistado quando ele tinha pouco mais de dez anos de farda. Sua breve história nos quartéis lhe garantiu, ao menos, a patente de capitão, que foi mantida na vida civil. Era ela que garantiria sua imagem de linha-dura para o público em geral.

Pulando de partido em partido (foram 8 trocas), Jair foi construindo sua imagem.
Misoginia, xenofobia, homofobia, ofensas, desrespeito à ordem democrática.
Não importava o tema. Jair sempre buscou o lado polêmico.
Sabia que a cada bravata, a cada frase polêmica, teria garantido seu espaço na mídia.
Ser do contra passou a ser o seu papel.
Estatuto do desarmamento, contra.
União homoafetiva, contra.
Cotas, contra.
Reforma agrária, contra.
Sociedade laica, contra.

Com a postura Jair passou a arregimentar cada vez mais simpatizantes e, melhor (para ele), polarizou as atenções. Se tornou o principal nome da direita no Brasil.

A bem armada estratégia fez com que seu sobrenome se tornasse uma “franquia” eleitoral.
Os três filhos e até a ex-mulher se elegeram. Um clã que bate na mesma tecla do patriarca; extremamente teatral e muito bem ensaiado.

Portanto, meus caros, quando Jair vai à frente de um microfone e elogia o chefe da gangue parlamentar ou faz uma ode a um dos mais cruéis torturadores do Regime Militar, não o faz como um arroubo impensado, ou como um desabafo de suas crenças.
A pantomima é apenas mais um ato da construção de sua imagem asquerosa.

Hoje será assunto central.
Hoje se digladiarão defensores e detratores.
Hoje sua foto estará estampada por todo lado. Bem como Jair queria.

A fala será guardada e usada mais tarde, para lembrar a seus eleitores como ele pode representá-los com firmeza; que é o bastião da resistência contra “forças subversivas que querem trocar o verde e amarelo de nossa bandeira pelo vermelho”.

O que fazer com um sujeito assim? Difícil dizer.
Talvez a melhor maneira de atingi-lo seja não lhe dar visibilidade desnecessária.
É claro que é duro ficar calado ao ouvir as coisas absurdas que ele fala. Declarações dignas de náuseas. Mas Jair continuará a fazê-las, pois foi assim que conseguiu ser o campeão de votos em seu estado; ser chamado de mito.

Dizem que pretende, inclusive, se candidatar à presidência. Não porque creia que tenha alguma chance de vitória (de ingênuo não tem nada), mas porque assim ganhará ainda mais projeção no pobre cenário político nacional. Ele e seu clã.

Ou seria melhor dizer matilha?


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