quarta-feira, 17 de abril de 2019


Das mil corridas de Fórmula 1 assisti a algumas centenas. E boa parte das 101 vencidas por brasileiros. A milésima, em Xangai, no último final de semana, não vi.

Confesso que tenho estado cada vez menos atento à categoria. A falta de igualdade de condições entre as principais equipes é um dos motivos, mas, claro, isso sempre aconteceu de alguma forma. Lotus, Ferrari, Williams, Benetton e RBR já tiveram seus períodos de supremacia. Imaginem o quanto devia ser chato para quem não era francês ou brasileiro ver Alain Prost ou Ayrton Senna se revezando no alto do pódio no período da parceria Honda-McLaren.

O outro motivo é a falta de brasileiros na pista. Minha frustração é maior porque já vi muito brazuca bom de pedal. Acompanho a categoria desde os tempos do Emerson. Aliás, já estive a poucos metros de Fittipaldi e seu Copersucar, no falecido autódromo de Jacarepaguá, durante treinos de pré-temporada. Hoje isso seria impossível. Eram outros tempos da Fórmula 1.



Desde que peguei gosto pela coisa, as corridas passaram a transpor a tela da TV. Iam para a borda da banheira, que se transformava em um circuito oval para carrinhos Matchbox ou para a praia de Copacabana praia, onde montávamos intrincados circuitos para Grandes Prêmios de chapinhas movidas a petelecos. Na escola, anos depois, mais sofisticação; as pistas eram desenhadas em enormes folhas de papel milimetrado e podíamos lidar com conceitos mais avançados como aceleração, frenagem e tangência.

Quando Piquet e Senna no auge, lado a lado, para mim foi a glória. Como esquecer da ultrapassagem no melhor estilo de corrida de kart que Piquet fez sobre Senna, em Hungaroring, em 86. Ou a primeira volta mágica de Senna, em Donington Park, pelo GP da Europa de 1993. Com um motor inferior, o brasileiro largou em quarto, debaixo de chuva, caiu para quinto e terminou a volta em primeiro. Isso porque diziam que o circuito não tinha pontos de ultrapassagem.
Senna e Piquet foram incríveis. E, apesar de piquetista, concordo que Ayrton era um fora de série. Poucos foram os pilotos que se atreveram a fazer algo semelhante ou que tiveram talento para isso.


Alguns eram insanos, como Gilles Villeneuve, que não se importava nem mesmo se lhe faltasse uma roda. No GP da Holanda, de 79, deu quase uma volta inteira sem uma delas. Chegou aos boxes com o eixo empenado, praticamente apoiado em apenas dois pneus. No Museu da Ferrari, em Maranello, há uma placa sobre seu recorde no trajeto de 435 quilômetros entre a fábrica da montadora e o principado de Mônaco, onde ele morava. O canadense fez o incrível tempo de 2 horas e 25 minutos. Morreu em um acidente horroroso durante os treinos em Zolder, na Bélgica, no ano de 1982. Os carros não tinham a segurança de hoje e o piloto foi lançado no ar.



Para mim, o grande charme da Fórmula 1, como vocês podem ver, não estava apenas nas bandeiradas. Vibrei ao ver o inglês Nigel Mansell desmaiar ao tentar empurrar sua Lotus, sem combustível até a linha de chegada do infernal GP de Dallas, em 84. E quase morri de susto ao ver a ultrapassagem de Rubens Barrichello sobre Michael Schumacher, na Hungria em 2010. Se houvesse mais alguns centímetros no muro dos boxes, Rubinho teria decolado e fatalmente morrido após uma fechada do alemão a mais de 300 por hora. O brasileiro, depois de tantos anos tento que abrir mão de posições para o companheiro de equipe nos tempos da Ferrari, fez ali, talvez, a manobra mais arriscada de sua carreira.

Continuo gostando de ver as provas da F1, embora não mais com a paixão de outrora. Mas é só estar zapeando no cabo e dar de cara com uma corrida que faço um pit-stop no canal. Pode ser motovelocidade (incrivelmente emocionante), Stock Car (bom também), Fórmula Indy, Nascar (embora seja meio entediante) e até a nova Fórmula E, composta por carros movidos a energia elétrica onde, pelo menos, há brasileiros para torcer, como Lucas de Grassi e Felipe Massa (tem o Nelsinho Piquet, mas ao contrário do pai, não vou com a cara dele).

Garanto a todos, no entanto, que essa minha paixão pela velocidade não é transferida para o cockpit do meu carro. Nas pistas pelas quais circulo, o acelerador é usado com a devida moderação.

TMJ Rubinho!

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